Toca o telefone e, do outro lado da linha, está aquela pessoa com quem não converso há tempos. Surpreso pela ligação inesperada, logo me vem à mente aquela sensação de “acho que ela quer alguma coisa”. De fato, provavelmente, ela quer alguma coisa. Habita no subconsciente coletivo a ideia de que os relacionamentos são pautados pela vantagem, mais do que pelo interesse altruísta. Todos somos tentados a cair nesse engano, de modo que precisamos de constante autorreflexão.

Demonstro que sou movido a vantagens quando trato de maneira diferente quem pode oferecer algo que é de meu interesse; quando, intencional e constantemente, estou na órbita de quem detém alguma posição importante; quando não me preocupo em fazer favores a quem não tem condições de retribuir; ou ainda quando faço favores para quem não tem condições de retribuir, porém nutrindo sentimentos de que, com isso, comoverei o Senhor a me abençoar ricamente. Sou movido a vantagens quando não fico contente em ver o sucesso alheio; ou ainda quando fico contente, todavia apenas porque o sucesso do outro não foi maior do que o meu. Sou movido a vantagens quando penso em desistir da fé e da igreja porque Deus não me tem dado o que eu queria; sou movido a vantagens quando só ligo para as pessoas em meus momentos de necessidade; sou movido a vantagens quando sou do tipo que não leva desaforo para casa; sou movido a vantagens quando me esqueço de pagar alguém, mas jamais me esqueço de receber o que me é devido…

Não foi isso que aprendemos de Jesus. Nem de Paulo, Tiago, Pedro, João ou Judas. O Senhor Jesus, em seu exemplo máximo, ensinou-nos a servir ao invés de ser servido (Marcos 10.45), a dar ao invés de receber (Atos 20.35). Paulo nos ensinou a sofrer o dano ao invés de levar uma disputa adiante e gerar mau testemunho (I Coríntios 6.6-8). Tiago nos ensinou a não fazer acepção de pessoas, ao separar os melhores lugares para quem tem posição e riqueza (Tiago 2.1-4). Pedro nos ensinou que sofrer por causa de Cristo é motivo de alegria (I Pedro 4.13 e 14). João nos ensinou que quem tem amor verdadeiro se doa pelo próximo (I João 3.16-18), e Judas nos ensinou por seu próprio exemplo, pois, mesmo sendo irmão do Senhor Jesus, fez questão de apresentar-se como servo (Judas 1), assim como os demais.

Cria em mim, Senhor, um coração humilde e focado nos outros!

Pr. Bruno Ruggeri

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