Paulo, citando as Escrituras do VT, afirma: “Não há justo, nem um sequer…” (Rm 3.2) e Tiago, irmão na carne de nosso Senhor Jesus Cristo, diz: “… a oração do justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5. 16f). O próprio apóstolo afirmara no final do v. 17, do primeiro capítulo: “…mas o justo viverá da fé”. Haverá algum conflito de haver ou não justos? De maneira nenhuma (como diria Paulo em sua argumentação).
De fato, não há nenhum justo entre os homens, com exceção do nosso amado Salvador Jesus Cristo. Por quê? Por causa do pecado original (pecado de Adão e Eva) que é transmitido de pais a filhos. Paulo diz em outro trecho de sua epístola aos Romanos: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.” (3. 23). Com exceção de Jesus Cristo todos os seres humanos que nascem, já trazem em si o gérmen do pecado. A herança pecaminosa estende-se de uma geração a outra. Todos são pecadores, e por causa desta natureza pecaminosa nenhum homem pode ser justo diante de Deus. Na verdade, só há um justo, Jesus Cristo, porque apesar de tornar-se homem, o seu nascimento foi sobrenatural, a obra do Espírito Santo. Ele não teve um pai humano, só mãe humana.
Por outro lado, com a obra redentora de Jesus Cristo, ao injusto, que reconhece ser pecador e que se arrepende e entrega a sua vida ao Senhor, é imputado a justiça divina. A nossa justiça não é pessoal, mas concedida por Deus mediante Jesus Cristo. Assim, vemos que não há nenhum conflito entre dizer que “não há nenhum justo” e depois encontrarmos “a oração do justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5. 17f) ou “o justo viverá da fé”. Ninguém que não tenha sido regenerado pelo Espírito Santo pode ser considerado justo por mais que se esforce para isto. Mas, os que recebem a Cristo são justos, não por seus próprios méritos ou sua capacidade pessoal, mas porque, Deus mediante Jesus passa a considerá-los justos. É uma justiça imputada pelos méritos do nosso Salvador.
Ao nascermos de novo (João 3) temos os nossos pecados perdoados e somos justificados por Deus mediante a fé (Rm 5. 1). Naquele momento recebemos uma nova natureza, a espiritual. Quando nossos pais nos geraram, deram-nos uma natureza, a carnal. Por isso o salvo por Cristo tem em si duas naturezas: a carnal (herdada pelos pais) e a espiritual (outorgada por Deus). Estas duas naturezas acompanharão o salvo durante toda a sua vida terrena. Estas duas naturezas vivem em conflito constante como Paulo bem descreve em Romanos 7. 1 – 25. É a luta do velho homem (natureza carnal) e o novo homem (nova natureza) – Ef. 4. 23-24. O apóstolo Paulo falando da luta íntima da velha natureza (carnal) e nova natureza (espiritual) demonstra a força da natureza carnal, exclama: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7. 25). Mas, logo a seguir rende graças a Deus por Jesus Cristo, através de quem podemos alcançar a vitória (v. 26). À quem foi imputado a justiça de Deus, mediante Jesus, portanto, os justos, têm o dever de viver e agir de modo que deixe de ser um crente carnal, passando a ser crente espiritual.
Os injustos – não regenerados por Cristo – vivem e agem satisfazendo a única natureza que têm – a carnal. Só os que receberam a graça de terem a justiça divina, mediante a fé em Jesus, têm a natureza espiritual. Daí o dever de se esforçar para que cada dia mais a sua natureza carnal vá definhando (ainda que ela não morra em nossa vida terrena) e automaticamente a natureza espiritual vá crescendo no domínio de nossa vida. Para isto precisamos ler mais a Bíblia (as leituras diárias desta semana mostram como podemos vencer a velha natureza), meditar nos seus ensinos e obedecê-los, tendo o cuidado com quem andamos, com o que lemos, com o que vemos, com o que fazemos e com o que pensamos. Todas as nossas ações acabam sendo fruto do nosso pensamento. Por isso é bom lembrar o que o mesmo apóstolo Paulo ensina em Filipenses 4. 6: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, seja isso que ocupe o vosso pensamento.”
Pr. Miguel Horvath