A partir do dia 31 de outubro de 1517, o mundo passou a experimentar uma sequência de mudanças que impactaram, profundamente, não só a cosmovisão religiosa, mas, também, a política, a econômica e tantas outras áreas da vida das pessoas e da sociedade. Uau! Já faz 503 anos! O tempo passou, muitas coisas mudaram, mas a autorreflexão da igreja cristã continua necessária, pois, em todas as épocas, a igreja cristã é tentada a abandonar o ensino de Jesus e dos apóstolos. As trincheiras precisam sempre ser fortalecidas e, por isso, o lema da Reforma Protestante é continua atual: “Igreja reformada e sempre reformando”.

Martinho Lutero e os outros reformadores reafirmaram a autoridade e suficiência das Sagradas Escrituras no estabelecimento dos conceitos e práticas da igreja e de seus membros. É fácil notar que, entre os outros “Solas” da Reforma, este é o mais atacado em nossos dias. Esses ataques acontecem por meio da relativização da verdade pela mera incredulidade ou por outras tantas vias sutis e perniciosas. Isso já é de se esperar, pois assim como se deu no Jardim do Éden, o Pai da Mentira sempre procurará colocar o que Deus disse em xeque (Gênesis 3.1-5).

Sempre é bom lembrar que o adversário de Deus procurará ser o mais estratégico possível para colocar a Palavra de Deus sob suspeita – e, até mesmo, sob descrédito –, pois isso abrirá as portas para todo tipo de mentira e engano. Ora, se Deus não tivesse dito nada ou se o que Ele disse fosse duvidoso ou, ainda, se o que Ele disse não fosse aplicável à nossa realidade, estaríamos no escuro, fadados aos limites da experiência e das percepções humanas (até mesmo qualquer tipo de “atualização” teria esse teto). Não existiria verdade e, dificilmente, se falaria em princípios universais. A “lei do mais forte imperaria”, e cada indivíduo e sociedade viveria como em um barco à deriva, sem porto seguro e sem referencial para o estabelecimento de conceitos e prática de vida.

Tal engodo faz lembrar um sofista da antiga Grécia, chamado Protágoras, que afirmou que “ o homem é a medida de todas as coisas”, querendo dizer que cada indivíduo tem sua própria compreensão do mundo e que, portanto, não existe verdade, mas apenas percepções diferentes e, igualmente, válidas. É uma espécie de humanismo exacerbado e seus proponentes, geralmente, o disfarçam com discursos bonitos, temperados com algumas verdades e aparente piedade, já que, de outro modo, seria prontamente detectado e rejeitado.

No limite, viver desse modo leva ao ateísmo teórico ou prático, resultando numa vida e mundo caóticos, sem esperança substancial e sem perspectiva eterna. Entretanto, os reformadores, além de lembrarem que a Bíblia é a Palavra de Deus, demonstraram em sua vida e ministério que a boa interpretação do texto sagrado leva em conta o “lá e então” dos seus escritores, sem perder de vista o significado disso para o “aqui e agora”. Ou seja, ainda que o mundo da época dos escritores tivesse algumas diferenças do nosso, é totalmente possível a aplicação para os dias atuais sem precisar “acrescentar” ou “tirar”  algo no que Deus falou. Basta munir-se de princípios corretos de hermenêutica (interpretação) para, assim, chegar ao sentido que os escritores bíblicos tinham em mente quando escreveram e fazer aplicações relevantes e honestas para os dias atuais. Colocar em dúvida a possibilidade de fazer a ponte do “lá e então” para o “aqui e agora” sem comprometer o sentido primário do texto é, na prática, o mesmo que afirmar que a Bíblia é um livro puramente humano, já que estaria fadada às limitações e percepções de seus autores.

Que após esses 503 anos de Reforma, o Sola Scriptura (Somente a Escritura) continue sendo nossa bandeira e que a graça de Jesus alcance os queridos irmãos que, infelizmente, foram enganados pela Serpente.

Pastor Adarlei Martins

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