Josué e Davi ao pressentirem a aproximação da morte, cada um por sua vez, com alguns séculos de diferença, anunciaram: “Eu vou pelo caminho de toda a terra… “ No culto em memória da Talitha, no final do velório, lembrando das palavras dos dois servos do Senhor do passado, iniciei o testemunho de sua vida dizendo: Talitha foi pelo caminho de toda a terra. Este é um caminho pelo qual todos passaremos um dia, a não ser que o Senhor Jesus Cristo venha antes deste dia. É o dia em que saímos deste mundo material, deixando o corpo material para ser sepultado, porque este tabernáculo não tem mais utilidade. Durante os 83 anos de vida da Talitha, o seu “tabernáculo” terrestre foi valioso para cumprir os propósitos de Deus em sua vida. Pela graça de Deus, ela entregou a sua vida a Cristo ainda na infância, batizada na adolescência (pois naquela época não se batizava na infância). Sentindo-se chamada para uma obra especial na Seara do Senhor, atendeu, preparou-se e serviu-O até o fim de sua vida com alegria e toda a dedicação.
Talitha já foi pelo caminho de toda a terra, deixando saudades, mas sendo recebida pelo Senhor e ouvindo uma voz no céu dizendo: “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham” (Apoc. 14. 13).
Não temos muitas revelações de como o céu é maravilhoso, mas pelo que a Bíblia descreve vai muito além da nossa imaginação ou capacidade de compreensão. O apóstolo Paulo, após sua conversão no caminho de Damasco, foi para a Arábia (Gal. 1. 17) e recebeu, por revelação direta do Senhor Jesus todo o ensino, que depois com toda a ousadia apresentou em seu ministério até seguir o “caminho de toda a terra” (Gal. 1. 12; Atos 20. 24, 26, 27). No período do seu isolamento na Arábia recebeu um privilégio, que nenhum outro ser humano teve em vida, o arrebatamento até o paraíso (2ª Cor. 12. 2 – 4). Ele mesmo descreve o que viu e sentiu no paraíso. A revelação foi tal que Paulo afirma que ouviu palavras inefáveis, as quais não é concedido ao homem falar. Este arrebatamento (em corpo ou espírito, que nem Paulo sabia explicar) o acompanhou em toda a sua vida.
Por este extraordinário arrebatamento Paulo podia afirmar com toda a convicção “Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 18. 1). Todas as lutas e dificuldade que precisamos enfrentar, suavizam-se sabendo que Deus tem-nos reservado um futuro de glória. Por esta mesma razão Paulo podia afirmar: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fil. 1. 21). Sabendo que, com a morte, iria viver no paraíso maravilhoso que tivera o privilégio de antever no seu arrebatamento, o morrer seria uma glória inefável. Estaria para sempre no paraíso indescritível com o amado Salvador e todos os remidos. Mas, por outro lado, sabendo que Deus tinha uma tarefa para ele na terra, sentia-se no grande dilema: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é infinitamente melhor; todavia, por causa de vós, julgo mais necessário permanecer na carne” (Fil 1. 23, 24).
Nós, que ainda neste momento não estamos na expectativa de ir “pelo caminho de toda a terra, devemos estar conscientes de que um dia seguiremos “o caminho de toda a terra” (naturalmente, se Cristo não voltar antes desse dia). Esta consciência deve trazer pelo menos três atitudes: 1ª Estar preparados para o dia da nossa partida para a eternidade. Devemos estar vigilantes porque não sabemos quando será. Pode ser a qualquer momento, mesmo sem estarmos com qualquer problema de saúde. Além disso a volta de Cristo pode acontecer a qualquer momento também. 2ª Com esta expectativa enfrentemos qualquer situação adversa, sabendo que uma eternidade de felicidade está reservada para nós. A própria partida de entes queridos, por mais dolorosa que seja é amenizada pela certeza de que estão num país maravilhoso, vivendo em glória contemplando a face do nosso amado Salvador. Ali só há felicidade e por isso louvor e adoração constantes. 3ª Consagrando mais nossas vidas ao Senhor, separando-nos de fato de tudo que é mundano (contrário à vontade de Deus). Viver como Jesus desejou na sua oração sacerdotal: continuarmos vivendo nesta sociedade corrupta, mas não fazendo parte dela; vidas que façam diferença no ambiente em que vivem.
Pr. Miguel Horvath