No decorrer de todo o livro de Jó, observamos que ele, muitas vezes, começa falando com os amigos e depois volta-se para Deus e fala diretamente com o Senhor. Em nenhum momento, seus amigos, em suas falas, se dirigem a Deus em oração. Nessas orações, Jó mostra a sua confiança em Deus, a incompreensão dos seus sofrimentos, mas sempre aceitando a soberania divina.
Depois de falar aos seus amigos, reafirmando sua integridade pessoal (Jó 6. 28 – 30), Jó começa a expor suas dores a Deus (Jó 7): a vida é penosa, com muitos desenganos e aflições (7.1 – 5); a vida é passageira (7.6 – 10); fala de suas angústias e amargura de sua alma por não ter resposta a muitas perguntas (7.11 – 21). Isso nos ensina que, em qualquer circunstância da vida, devemos buscar a Deus em oração, com toda sinceridade, pois só Ele sabe tudo e tem todo o poder para compreender e resolver as situações pelas quais estivermos passando.
Diante da insistência de seus amigos na acusação de que os seus sofrimentos eram resultados de sua vida pecaminosa, Jó, em seu desespero, protesta contra a severidade de Deus (10.1 – 22), pois não se sente culpado. Sabe que é obra das mãos de Deus (10.3). Sabe que Deus conhece a sua integridade (10.7). Sabe que Deus tem ciência de sua fragilidade (10.9). Na conclusão dessa oração, repete alguns desejos já expressos anteriormente (10.11 – 22).
Jó mostra também o desejo de dialogar com Deus para provar a sua inocência (13.16 -19), lembrando-se da sua fragilidade, como a de todos os homens (13.25 – 28), fala da brevidade da vida, de como ela é passageira e que todos somos pecadores, impuros.
As orações de Jó são preces à beira do abismo. Jó viveu antes do tempo da aliança de Deus com Israel. Ainda não tinha o conhecimento que o povo de Deus recebeu com a Lei mosaica. Nós já temos toda a revelação necessária, dada através de Cristo, para um conhecimento mais profundo de Deus. Mas, com as orações de Jó, aprendemos que, mesmo à beira do abismo, sempre temos a quem recorrer, na certeza de que Deus nos ouvirá, como ouviu a Jó (42.7, 10).
Pr. Miguel Horvath